sábado, 20 de outubro de 2012

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A história do pequeno herói - Capítulo 2

Capítulo 2 – Um ser traiçoeiro 

 Sentia-se pesado, haviam enchido a sua mochila de comida, frutas, verduras, pães, molhos, sucos, algumas coisas que ele nunca havia visto e que vinham de influências de outras terras, como Meridell. Não ligou para os ótimos odores e a bela aparência, não poderia andar com velocidade carregando todo aquele peso. Mesmo sabendo que poderia se arrepender, queria se livrar daqui. 
Caminhou durante um tempo e viu um rio passando por ali, de acordo com o mapa, seguindo o curso do rio, chegaria ás terras das duas famílias, já que haviam alguns moinhos naquela localidade. Olhou rapidamente para a trilha que estava seguindo, não havia grama e pequenas pedras eram distribuídas irregularmente pelo chão, formando um tipo de calçada. Seguiu a trilha mais ingrime, a do curso do rio, que apresentava muita vegetação, algumas com espinhos, que raspavam a sua pele, mas ele não percebia, cortes pequenos são coisas normais no campo, com todos os anos de trabalho árduo, espinhos nem se quer lhe faziam cócegas. 
Não estava cansado ou mesmo com sede, mas o caminho que já havia percorrido era longo, daquela distância só podia enxergar as pontas das torres mais altas, que ali não faziam mais sombra alguma. Sombras, era isto que Foxon deveria temer naquela floresta. Ainda era dia, mas a noite logo cairia e o caminho dentro de uma floresta não é algo totalmente seguro. Não apenas pelas peçonhas ou flores sempre apontadas para você, mas também para aquilo que se esconde nas sombras. 
Perfeito para um jantar elegante.Ótimo para se molhar no mingau, ou comido puro.Debruçou-se sobre o rio e bebeu um pouco de água. Tinha muitas garrafas, mas a água do rio lhe parecia mais limpa e atraente, apesar de que, aos olhos de qualquer um, poderia ser percebido que não havia divergência entre ambas. Ali, no chão molhado e cheiro de terra, em um segundo viu alguns petpetpets aproximarem-se devagar, um Pinchit parecia ser o líder deles e olhava para Foxon enquanto ele analisava todos os suprimentos. O Kyrii sorriu e retirou um pedaço de um pão, oferencendo aos petpetpets, que aceitaram com o tempo. Estava feito, ele havia arranjado um local para por sua comida sem precisar desperdiça-la. Claro, petpetpets para muitos são insignificantes, mas para aquele Kyrii, que tinha apenas Babaas como amigos, tornando-se tão gentil, eles eram criaturas tão nobres quanto o próprio rei. Com a bolsa quase vazia, apenas com o que ele achava essencial, água, frutas e menos de cinco pães, continuou sua aventura. 
Estava feliz, pois nada de extraordinário havia acontecido até então, tornando todo o caminho bem calmo. Sentou-se em um tronco e analisava o mapa, não era de fato grande coisa, apenas com um caminho traçado por linhas vermelhas e algumas árvores de um lado e o rio do outro. Porém, havia algo que chamava sua atenção, havia uma mancha no rio retratado no mapa, não algo que veio de um acidente, mas algo que colocaram ali quando fizeram o mapa. A localidade onde havia a mancha não era tão distante, mas sua curiosidade não era tão grande a ponto dele ir buscar por aquilo naquele momento, no fim do dia. Anoiteceu enfim, o brilho do pôr do sol dava fim ao primeiro dia de aventuras. 
Armou uma barraca, a única coisa que ele considerava inútil mas havia deixado na sua mochila. Normalmente dormiria em um conjunto macio de folhas, mas como seguia o curso do rio, havia muita lama e caso essa lama marrom-avermelhado grudasse em seus pelos azuis cintilantes, a sua movimentação seria menor ainda. 
Dormiu, mas naquele momento as sombras o observavam de perto. A que se movia era apenas uma, mas era veloz. O bater de asas era rápido, rodeava a barraca. Não era rápido como o de Duni, mas a diferença não ficava apenas ai. O bater de asas de Duni era abafado, este fazia um barulho enorme, o que provavelmente havia salvo o Kyrii das garras que entravam e rasgavam sua barraca. Em um momento ouviu o som das asas e acordou, em outro estava com a espada amarela na mão, segurando sem jeito e a apontando para o Shoyru mutante que ainda vasculhava o restos da barraca. Procurando talvez por tesouros, ou pela carcaça de quem ali estava. 
O Kyrii, pequeno, na escuridão não era visto, mas o Shoyru procurava por ele, não parecia ser muito inteligente, mas era forte. Sem saber como manusear uma lâmina, ele apertou a espada com força, mas esta escapou de sua mão, fazendo um pequeno barulho no chão. O Shoryu imediamente olhou para o local. 
- Blarg, Krimily achou a caça. – Sorria e voava em círculos, em volta do azul cintilante e do dourado de espada, que agora podia ver. 
- Olha, eu não sei quem você é, nem o que quer aqui, mas se me deixar ir embo... 
- Blarg! Meu nome é Krimily e eu não posso deixar você fugir no meu turno. – Ele também babava, o que deixava o Kyrii desconfortável. 
Foxon pegou a espada novamente, mas desta vez estava confiante, segurou-a com firmeza, não poderia simplesmente perder aquela batalha. Krimily avançou, mas Foxon desviou devagar, segurando com firmeza os restos da barraca, quando o voo dele voltou em um rasante e ele iria direcionar suas patas para seu pescoço, ele escorreu por baixo e saiu correndo, tentando sempre seguir o curso do rio, tentando não adentrar na escuridão da floresta. A sua briga com Duni havia lhe ensinado como desviar de ataques aéreos e ouvir bem a batida das asas. 
O que havia sentido naquela noite foi rápido, mas lhe causou muita dor. Escutando o som dos asas, podia desviar sem olhar para trás, mas um outro som, como uma explosão, vindo da floresta, desviou sua atenção, foi então que foi agarrado por traz e lançado no chão. A verdadeira batalha começava ali. No chão, os dois rolavam, a espada nem se quer arranhava o Shoyru, ele era rápido e segurava um dos braços do Kyrii. Socos e pontapés eram constantes, rolando na lama, eles se dirigiram até a água, mas o curso do rio era lento, eles nem mesmo se moviam, levantando-se novamente, o Kyrii começou a nadar, nadar rapidamente. Ao menos no nado, o Foxon levava vantagem, escutando os murmúrios do mutante atrás, nadava cada vez mais rápido, ele não podia perceber que caso saísse da água conseguiria ser veloz, ficava portanto tentando alcanças Foxon ali mesmo, no rio. 
O Kyrii encostou-se em umas pedras e abriu o mapa, foi então que percebeu que ali perto, logo em frente estava a mancha, que agora atiçava a sua curiosidade. Aquilo poderia ser sua salvação, ou uma simples coisa criada pelo tempo. Pensou rápido, havia tempo, mas se por um momento Krimily tivesse um pensamento inteligente, seria seu fim. 
Nadou, nadou, até atingir o que ele achou que fosse a mancha no mapa, revelou-se então, após ficar estático por alguns segundos, ele nadou, com dificuldade, até a margem. O plano estava feito, mas o Shoyru iria demorar a chegar. Sentou-se em uma pedra e o tempo começava a passar, por vezes queria dormir, pois o Shoyru demorava muito, chegou ao ponto de desistir, guardando a espada na bainha, quando ouviu novamente as asas batendo. - Blarg, lembrei que posso voar, agora vejo uma caça que atrapalha meu turno ali na frente. 
- Vem seu mutante feio! Você não é nada! – Foxon provocava, gritava. 
- Blarg, o baixinho não sabe o que diz, vou acabar com ele. 
O que aconteceu em seguida poderia ser resumido como uma batalha entre um ser astuto e um nem tanto assim.  Krimily chegou abrindo a boca, quebrando galhos com seus enormes dentes, mas, ao chegar em frente a Foxon, foi surpreendido por uma bola de lama no rosto, o que fez ele perder os sentidos por alguns segundos, mas foi o suficiente. Quando ele desceu até o chão, Foxon o agarrou e, em um movimento rápido, o lançou contra a árvore, ela era muito grande, tendo raízes espalhando-se por todo o solo. Quando o Shoyru avançou novamente, o Kyrii abaixou-se, dando-lhe uma rasteira e fazendo com que ele caísse em cima desses espessos troncos, cheios de musgo. O musgo fazia Krimily escorregar e se enrolar em alguns cipós distribuídos pelo chão. 
Desta vez, Foxon foi para cima dele, segurando um dos cipós em que ele se enroscara, pulou por cima da árvore e o amarrou em outro, que já estava propositalmente ali. Krimily tentou abrir as asas, mas não conseguia, o cipó havia se enroscado em todo o seu corpo. 
- Blarg, Krimily não gosta disso, Krimily, não gosta! Eu, Krimily preciso escapar. 
- Calma, já vai terminar, só mais um pouco. – Foxon subia e descia da árvore, enrolando no Shoyru tudo o que fazia parte do seu plano. 
Naquele momento Krimily era uma mosca, sendo pega por uma aranha. O trabalho árduo havia terminado, lá estava ele, o dragão totalmente enrolado, preso por várias cordas verdes, indefeso. Neste momento, o que Foxon quisesse fazer, ele o faria. Puxou a espada, o brilho dourado passava nos olhos dele, o brilho que era o reflexo de uma lua minguante. Aproximou vagarosamente a espada de Krimily, deu um pequeno sorriso e cortou. 
O cipó que ele havia preparado havia sido partido por ele mesmo, com sua bela espada. O Shoyru gritou enquanto era puxado por entre as árvores, o cipó principal foi desfeito e todos os outros faziam com que ele começasse a ser arrastado em meio a galhos e folhas, até que chegou na ponta de uma ramificação de galho, muito fina, que não aguentou seu peso, ele caiu. 
Este era desde o início o plano de Foxon, amarrar Krimily e arranjar uma forma de o jogar no rio, na mancha, no redemoinho. Era isso que havia lá, um redemoinho. Três rios se juntavam em uma fenda, o que fazia com que as águas formassem um ciclone pluvial. O Shoyru amarrado não podia se mexer, por um tempo ficou embaixo da água. O fluxo violento o fazia subir e descer, a água o deixava nervoso, ele tentava voar, achava que conseguiria sair, mas os cipós não deixavam. Foi então puxado por um dos rios, que não era o que o Kyrii deveria seguir. Suas últimas palavras, antes de ser levado pela forte correntese, foram: 
- Blarg, meu turno terminou, mas eles virão te buscar! Ou você está indo atrás deles, até mais, nanico.

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